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O distanciamento social pode impulsionar a economia?

Um estudo da pandemia da gripe espanhola de 1918 constata que cidades com maior distanciamento social obtiveram melhores benefícios econômicos.

Durante grande parte do mês passado, as grandes mídias brasileiras defenderam o esforço para promover o distanciamento social. Pedindo as pessoas para que ficassem em suas casas a maior parte do tempo, saindo apenas para fazer o essencial, para que dessa forma, a propagação do coronavírus reduzisse, ao ponto de não colocar mais em risco toda a população.

Logo de início, o próprio presidente do Brasil, foi contra ao distanciamento social total, pois devido a realidade econômica da população brasileira, o colapso na economia poderia acontecer e dessa forma, traria muito mais prejuízos a população, que a própria propagação do vírus.

Apesar de ambos os pontos de vista apresentarem seus benefícios, até então pouco se falava que o distanciamento social pode ser ótimo não apenas do ponto de vista da saúde pública, mas também do ponto de vista econômico.

Os economistas Sergio Correia, Stephan Luck e Emil Verner divulgaram um trabalho na semana que torna esse argumento extremamente convincente. Os três analisaram a pandemia de gripe espanhola de 1918-1919 nos Estados Unidos, como uma comparação mais próxima, embora não idêntica a crise atual. Foram comparadas cidades que adotaram políticas de quarentena e isolamento social mais cedo, com aquelas que as adotaram mais tarde.

Hospital Gripe espanhola

Em seu trabalho, os pesquisadores concluíram que as cidades que interviram com o distanciamento social (quarentena) e o fechamento de escolas e empresas mais cedo e de uma forma mais rigorosa, não apresentaram desempenho pior e acabaram crescendo economicamente mais rápidas após o término da pandemia.

A publicação esclarece que na teoria, o distanciamento social mais rigoroso, como o que já está ocorrendo em algumas cidades brasileiras, podem desacelerar a atividade econômica em um primeiro momento. As pessoas limitadas de trabalhar, em função da necessidade da quarentena e restrições dos governos estaduais e federal, são diretamente afetadas. Porém, acabam impedindo que mortes em larga escala aconteçam, o que também traria um impacto negativo para a economia.

Em outas palavras, medidas de distanciamento social que salvam vidas também podem, no final, amenizar a ruptura econômica de uma pandemia.

 

O distanciamento social na gripe espanhola

Gripe Espanhola Enfermeiras Estados Unidos

Em 2007, um artigo publicado no Journal of the American Medical Association, apresentou um registro das políticas adotadas entre 8 de setembro de 1918 a 22 de fevereiro de 1919, em 43 cidades diferentes nos Estados Unidos. O distanciamento social foi adotado e a combinação de fechamentos e proibições de escolas e reuniões públicas foram as formas mais comuns utilizadas para impedir a propagação da pandemia naquela época. 34 das 43 cidades analisadas adotaram essa regra por uma média de quatro semanas.

Outras cidades evitaram essas políticas de distanciamento social, apenas adotando procedimentos obrigatórios de isolamento e quarentena: “Normalmente, os indivíduos diagnosticados com gripe eram isolados em hospitais ou instalações improvisadas, enquanto os suspeitos de ter contato com uma pessoa doente (mas que ainda não estavam doentes) ficavam em quarentena em suas casas com um cartaz aonde era declarado que o local estava em quarentena”, comentam os autores da pesquisa, detalhando a abordagem adotada na cidade de Nova York na época.

Este artigo de 2007 encontrou uma forte associação entre as medidas de distanciamento adotadas, o tempo de duração destas medidas e as mortes relacionadas a pandemia. Com o distanciamento social prolongado, ficou evidente a redução do número de mortes. Sabendo disso, os pesquisadores passaram a estudar o impacto que as mudanças na mortalidade, devido à pandemia de 1918, impactaram nos resultados econômicos locais.

“O aumento da mortalidade da pandemia de 1918 em relação aos níveis de mortalidade de 1917 (416 por 100.000 habitantes) implica em uma queda de 23% no emprego industrial, redução de 1,5 ponto percentual no emprego industrial e uma queda de 18% na produção”, concluem. Em outras palavras, um grande surto significou em um desastre econômico para as cidades afetadas.

Em seguida, eles combinaram esta análise com os efeitos das políticas do distanciamento social. Eles descobriram que a introdução destas políticas está associada a resultados mais positivos em termos de emprego e produção industrial. As cidades que introduziram mais rapidamente estas políticas tiveram um emprego 4% mais alto após o término da pandemia. Aqueles que mantiveram por mais tempo as medidas de distanciamento social, tiveram emprego 6% maior após o evento.

A conclusão é clara: essas políticas não apenas levaram a melhores resultados para a saúde, como também levaram a melhores resultados econômicos. As pandemias são muito ruins para a economia, mas impedir que elas se propaguem, é o melhor para a economia.

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A mensagem de que não existe outro jeito se não salvar vidas ao invés da economia, é tranquilizadora. Quanto dinheiro estaríamos dispostos a abrir mãos, para salvar uma vida humana? Essa é uma escolha muito delicada neste momento, e achar que não precisamos fazê-la, como sugere os pesquisadores, é reconfortante.

Crédito imagem: pixabay

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