Por que a Era glacial ocorreu há 700 milhões de anos?
Há cerca de 700 milhões de anos, a Terra passou por uma era glacial extrema, conhecida como Glaciação Sturtiana, que transformou nosso planeta em uma imensa bola de neve. Este período, caracterizado por geleiras que se estendiam dos polos até o equador, intrigou cientistas por muito tempo. Graças a pesquisas inovadoras lideradas por Dr. Adriana Dutkiewicz e Professor Dietmar Muller, da Universidade de Sydney, em colaboração com o grupo EarthByte, estamos mais próximos de compreender esse fenômeno. Durante uma expedição ao Flinders Ranges, Dr. Dutkiewicz foi inspirada a investigar como a atividade vulcânica poderia ter convertido nosso planeta azul em uma esfera gelada. Utilizando modelagem tectônica de placas, os geólogos australianos determinaram a causa mais provável dessa era glacial extrema.
A pesquisa, publicada na revista Geology, não apenas aprimora nosso entendimento sobre o termostato interno da Terra, que previne o superaquecimento do planeta, mas também destaca a sensibilidade do clima global à concentração de carbono na atmosfera. “Imagine a Terra quase completamente congelada,” disse Dr. Dutkiewicz, a principal autora do estudo. A equipe acredita ter desvendado o mistério: uma baixa histórica nas emissões de dióxido de carbono vulcânico. Dessa maneira, o projeto foi inspirado pelos detritos glaciais deixados pela antiga glaciação, visíveis no Flinders Ranges, na Austrália do Sul. Dessa forma, a Glaciação Sturtiana, nomeada em homenagem ao explorador colonial europeu do século XIX, Charles Sturt, durou de 717 a 660 milhões de anos atrás, muito antes da existência dos dinossauros e da vida vegetal complexa em terra.
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Causas da Glaciação Sturtiana
Diversas teorias foram propostas para explicar o início e o fim dessa era glacial extrema, mas o aspecto mais misterioso é sua duração de 57 milhões de anos. A equipe recorreu a um modelo tectônico de placas que mostra a evolução dos continentes e bacias oceânicas após a fragmentação do supercontinente Rodinia. Sendo assim, eles o conectaram a um modelo de computador que calcula a degaseificação de CO2 de vulcões submarinos ao longo das dorsais oceânicas – locais onde as placas divergem e nova crosta oceânica é formada. Rapidamente perceberam que o início da Glaciação Sturtiana correlaciona-se precisamente com um mínimo histórico nas emissões de CO2 vulcânico. Além disso, a emissão de CO2 permaneceu relativamente baixa durante toda a duração da era glacial.
Impacto na Terra primitiva e lições para o futuro
Naquela época, não havia animais multicelulares ou plantas terrestres na Terra. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera era quase inteiramente ditada pelo CO2 liberado por vulcões e pelos processos de intemperismo de rochas silicáticas, que consomem CO2. “A geologia governava o clima naquela época. Dessa forma, acreditamos que a Glaciação Sturtiana foi desencadeada por um duplo golpe: uma reorganização tectônica de placas reduziu a degaseificação vulcânica ao mínimo, enquanto, simultaneamente, uma província vulcânica continental no Canadá começou a erodir, consumindo CO2 atmosférico. Sendo assim, o resultado foi que o CO2 atmosférico caiu para um nível que desencadeou a glaciação,” explicou o co-autor Professor Dietmar Müller.
Este estudo levanta questões intrigantes sobre o futuro de longo prazo da Terra. Uma teoria recente propõe que, eventualmente, a Terra poderá se tornar uma bola de neve novamente, devido à trajetória atual de baixas emissões de CO2 vulcânico, à medida que as colisões continentais aumentam e as placas desaceleram. “Seja qual for o futuro, é importante notar que as mudanças climáticas geológicas, do tipo estudado aqui, acontecem extremamente devagar,” segundo a NASA. Este trabalho foi possibilitado pelo grupo GPlates da EarthByte, lançando luz sobre um dos períodos mais enigmáticos da história da Terra.