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Deus Vult: um mistério da época dos Cruzados está de volta

Deus Vult ou “Deus quer!” em latim foi um grito de guerra, ou seja, um grito de armas. Normalmente, uma palavra ou frase curta utilizada, para unir ou incentivar ao combate ou àuma ação, os seus membros ou seguidores de uma ordem. No caso da Igreja Católica foi associado às Cruzadas e seus soldados. Mas você sabe o motivo da expressão estar de volta após tantos anos?

Papa Urbano II e as Cruzadas

Ignoto Papa Urbano II tela 1756
Papa UrbanoII tela de 1756.

A expressão “Deus vult” reverberou por toda a Europa quando o Papa Urbano II proclamou a Primeira Cruzada durante o Concílio de Clermont, em 1095, respondendo ao apelo da Igreja Ortodoxa para deter a expansão islâmica do Império Seljúcida na Anatólia.

Mas afinal o que foram as Cruzadas? Bem tudo iniciou no Concílio de Clermont-Ferrand quando o Papa Urbano II convocou os cristãos para uma guerra que ecoaria para sempre na história contra os muçulmanos, a fim de reconquistar Jerusalém.

Assim Iniciaram-se as cruzadas, ou seja, expedições militares que partiam da Europa cristã com o objetivo de combater os muçulmanos no Oriente.

Aliás os seus participantes, na maioria tão devotos que consideravam-se “marcados pelo sinal da cruz” e bordavam a cruz na roupa.

Infelizmente houveram inúmeros crimes durante as cruzadas, uma guerra que tinha o objetivo de aumentar o poder da igreja ante outras crenças.

Então Deus vult é uma expressão latina que sinifica “Deus quer”, sendo adotada como um grito de guerra pelos cruzados cristãos no século XI e está intimamente ligada à Cruzada dos Príncipes, que culminou no Cerco a Jerusalém em 1099. Assim chamada por que foram os nobres os primeiros a atenderem o chamado do Papa.

Entretanto a população também acabou sendo recrutada para participar das Cruzadas, porém a maioria eram pessoas que mal sabia ler ou escrever.

E a expressão Deus vult também acabou ocasionalmente escrita como “Deus volt” ou “Deus lo volt”, sendo ambas corrupções do latim clássico.

De acordo com Edward Gibbon, no seu livro “Declínio e Queda do Império Romano”, esclarece a origem dessa variação:

“‘Deus vult, Deus vult!’ Era a aclamação pura do clero que entendia o latim… Para os leigos analfabetos que falavam o idioma Provincial ou Limousin, foi corrompido para ‘Deus lo volt’ ou ‘Diex el volt’.”

Deus Vult o grito na história

Inegavelmente, a mais antiga evidência do uso de Deus vult como grito de guerra remonta ao à “Gesta Francorum” ou”Os Feitos dos Francos”, um documento latino anônimo que detalha os eventos da Primeira Cruzada.

Tanto que No início do século XII, um homem conhecido como Robert o Monge reescreveu a “Gesta Francorum”, incluindo um relato do discurso do Papa Urbano II no Concílio de Clermont, em 1095.

No discurso, o papa instou todos os cristãos a se unirem à Primeira Cruzada e a lutar pela recuperação de Jerusalém dos muçulmanos.

Segundo, o Monge, a multidão ficou tão exaltada com o discurso de Urbano que, ao seu término, clamaram: “Deus le volt! Deus le volt! Deus le volt!”

Conforme ainda descrito pelo autor, um grupo de soldados se reuniu em Amalfi, na Itália, em 1096, se preparando para a ofensiva na Terra Santa e todos estavam vestindo túnicas marcadas com o símbolo da cruz.

E este grito foi repetido dois anos depois, durante o Cerco de Antioquia, uma grande vitória para as forças cristãs.

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Tanto que a Ordem do Santo Sepulcro, uma ordem de cavalaria católica romana estabelecida em 1099, adotou “Deus lo vult” como seu lema.

A ordem perdurou ao longo dos anos e atualmente conta com aproximadamente 30.000 cavaleiros e damas, incluindo muitos líderes na Europa Ocidental.

Mas não significa que não tenha membros do mundo todo participando ativamente, entretanto é maior sua influência no ocidente.

Aliás estes membros aceitos tem como regra vestirem capa branca, no caso dos Cavaleiros, e capa preta e véu, no caso das Damas.

Sendo todas bordadas com o símbolo máximo de Jerusalém, ou seja, a Cruz vermelha de Jerusalém, enquadrada por outras quatro pequenas cruzes, lembrando às cinco feridas sofridas por Jesus Cristo durante a crucificação.

E a admissão à cavalaria é concedida pela Santa Sé aos católicos praticantes reconhecidos por suas contribuições para as obras cristãs na Terra Santa.

Inclusive a Ordem do Santo Sepulcro é uma das rarissímas Ordens de Cavalaria reconhecidas, histórica e juridicamente, pela Santa Sé.

Mas este grito de guerra e de fé, voltou para a atualidade, sendo usado nas ruas e muitos não entenderam seu significado, enquanto outros o tenham distorcido. Entenda.

Atualmente

imagem Paradox Studio

Mais recentemente, durante as discussões politicas com a ascensão do governo Bolsonaro, algumas pessoas tem empregado a expressão em um contexto similar ao utilizado pelos apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Isso ocorreu após a frase “Deus vult” ser resgatada em seu contexto histórico no videogame Crusader Kings II, lançado em 2012, e evoluir para um meme na internet, posteriormente adotado pelos apoiadores de Trump durante sua campanha presidencial de 2016.

A frase se tornou uma espécie de código politico, uma hashtag de propagada em mídias sociais e grafites da direita alternativa, principalmente nos EUA.

Infelizmente no ano de 2016, várias mesquitas e outros locais foram alvo de vandalismo com essa frase mas nunca pegaram quem foram os reais responsáveis.

Entretanto é importante lembrar que apesar de algumas pessoas distorcerem o verdadeiro significado da frase Deus Vult, que nada mais é doque um chamado de fé. Seja essa fé cristã ou não.

Todos os credos devem ser respeitados, assim como todas as opiniões politicas devem ser respeitadas. O livre arbitrio tanto quanto a liberdade de expressão deveria ser um direito de todos.

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